Last Summer Whisper

Mateus Braz
2 min readApr 16, 2022

As vezes eu queria que um dedo gigante descesse dos céu e me esmigalhasse. Simples assim, como se uma divindade escolhesse me apagar da existência. Por favor, não confunda este desejo com uma reles “vontade de morrer”, tampouco com uma banalíssima “vontade de não existir”. Não se trata de nada tão frívolo. Minha vontade é precisa e atende demandas específicas. O suicídio é demasiadamente romântico, uma fuga e um passo adiante. O suicídio implica um misto enfadonho de coragem e covardia. As pessoas choram, e se questionam: “por que?” Chatíssimo, além de brega. Já o dedo divino, possui uma inevitabilidade irresistível. O suicídio pode ser evitado, e muito facilmente o é. “Ele poderia estar aqui” alguns vão dizer, em delírios messiânicos, “se eu tivesse falado mais com ele.” Do dedo, ah, do dedo não adianta correr. Não sou tão rápido. O dedo colossal me esmagaria, e apesar de suas dimensões continentais, somente eu seria lesado. Afinal só um ponto de uma superfície redonda toca outra. Esse deus hipotético possui uma precisão invejável. Morrer num acidente seria trágico. Pessoas estranhas emitindo platitudes nojentas para se sentirem bem. Um acidente também seria evitável. Uma fatalidade. “Se ele tivesse saído de casa 5 minutos mais cedo…” Lamentável. Contudo, ser alvo da cólera divina é outra história. As pessoas se perguntariam se essa entidade tinha algum motivo, por que só eu fui morto, quem seria o próximo. Não haveria próximo. Esta morte fantástica seria só minha. O homem deletado por forças maiores. Muito maiores. Tão maiores que, bem, escapassem da compreensão do homem comum. Um louco dedicaria sua vida conjecturando teorias mirabolantes para entender o caso mais inexplicável já observado por olhos humanos. Acabaria internado em hospício. Uma morte assim, materialmente imaterial e teluricamente metafísica me investiria de certa importância. Acho! Eu, aquele que foi escolhido como ponto de contato na única vez que deus se mostrou para a humanidade no século 21. E ninguém saberia o motivo, mas todos saberiam que houve um motivo. O fato de ser um dedo deixaria evidente que havia uma criatura racional por traz disto. Teólogos em vão tentariam compreender. Quais seriam seus motivos? Eis o mistério da fé.

Infelizmente essa possibilidade não se apresenta. Parece que vou acabar morrendo de um jeito bem cafona.

Merda…

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