Scouting for Girls e o homem medíocre
As letras da banda Scouting for Girls quase sempre abordam de um jeito singelo alguma infantilidade que povoa as inseguranças masculinas. Por exemplo, em “I Wish I was James Bond” o cantor passa a letra inteira repetindo que queria ser o 007 para “beijar as garotas e explodir os vilões”, mas no fim, quando a música atinge seu ápice e o piano grita, ele diz: “Eu queria ser você, eu queria ser você, eu queria ser… outra pessoa” mostrando um eu lírico inseguro de si mesmo. Parece que o compositor entende que a fantasia de poder masculina é essencialmente um profundo ódio de si mesmo. Mesmo assim, a música tem uma sonoridade leve, sugerindo que talvez não seja de todo mal sonhar com essas besteiras.
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Isso se aplica a várias outras canções da banda. Em “Elvis Ain’t Dead” a brincadeira é com os teóricos da conspiração que afirmavam que Elvis estaria vivo. “Elvis não está morto, e você vai voltar pra mim” mais uma vez, o eu lírico parece ser um homem solitário, deprimido, projetando a solução das suas inseguranças em algo maior do que ele mesmo. Assim como os conspiradores, submerso em ilusões de que tudo ainda vai dar certo, o autoengano é remédio que o embriaga. Em “Michaela Strachan” o cantor descreve sua paixão da adolescência por uma repórter televisiva. Em “Mountains of Navaho” ele diz, se dirigindo a uma pessoa amada que partiu: “Eu nunca vou ser um cara como o He-Man / Eu nunca vou ser uma mulher como a She-Ra / Sou uma fera solitária assim como o Gato Guerreiro” fazendo alusão ao desenho animado dos anos 80. A nostalgia é um fator que une todos esses personagens. São sempre aspectos da infância que retornam como uma ferramenta para entender o presente. Elvis, James Bond, He-Man, ou uma moça bonita que apareceu no jornal, dando início a adolescência de um espectador incauto.
Homens patéticos presos a ilusões de menino. Algo que fica ainda mais evidente na letra de “Trouble With Boys” onde a banda abertamente comenta a dificuldade masculina em crescer: “Eu achei que a essa altura já teria a vida resolvida / Na minha idade, meu pai já tinha construído a própria casa / Preciso de um manual só pra trocar uma tomada / Mas sou especialista em como ficar bêbado” é perceptível a angústia geracional. O ideal de masculinidade da geração anterior parece esmagar o eu lírico. No restante da letra, ele canta sobre ainda gostar de piadinhas idiotas, sobre não se reconhecer no rosto envelhecido no espelho, sobre ser irresponsável. Parecido com muitos que nós conhecemos. A conclusão, como eu disse, singela, vem no refrão, e parece amarrar todos os homens “patéticos” que habitam as letras de Scouting for Girls:
“Esse é o problema com os meninos
Não precisa ler Freud
Porque se você nos deixar escolher
Nós vamos encher a cara com guris
E esse é o problema com os meninos.
Não se irrite, meninos são assim
Eles não querem falar sobre isso
Não, eles não querem desabafar”
A melodia suave das canções da banda parece sugerir uma resignação perante esses aspectos. O eu lírico sabe de seus defeitos, tem consciência de suas falhas, mas prefere se enxergar como um “homem normal”. Adquire, de certa forma, uma compreensão sutil de que essas inseguranças e dificuldade em se desvencilhar da infância afetam todos, em diferentes medidas, e não adianta arrancar os cabelos por isso. Somos apenas homens normais. Por pior que isso seja. Eu poderia discorrer mais, mas marquei de encontrar o pessoal no bar.